O JANTAR

Hiperbreves

Jantavam sempre em silencio. Às vezes ela sorria com esse sorriso carinhoso que ainda hoje enchia de saudades o coração dele. Às vezes era ele quem a contemplava com aquele olhar voraz que nunca ninguém conseguiu imitar, e ela tremia. O silencio só era rompido, momentaneamente, quando o garçom abria a garrafa de champanhe, e a colocava num balde de cristal com gelo. O buquê de rosas vermelhas, que dava um toque de cor à alvura da mesa de jantar, foi ideia dela. O anel de rubis, um detalhe dele. Ela percebeu como ele ficava elegante naquele smoking, e sorriu. Ele achou-a linda e sensual naquele decotado vestido de seda, e observo-a com olhar guloso. Faziam mais de vinte anos que estavam separados. Foi num treze de setembro, depois de um jantar. Desde então, celebram essa data juntos e em silencio. A cada ano aprimoram mais os detalhes da comemoração, do vestuário, dos pressentes. E a verdade seja dita, o resto do ano eles vivem, única e exclusivamente, em função desse momento. 


IYolanda Serrano Meana I


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