VONTADE

Hiperbreves
Empurrou a porta e entrou. No Hall sussurrou o nome dele. Já vou, disse a voz que parecia vir do fundo da casa. Não se mexeu. Ficou lá, sem respirar. Feita estatua. Ela e o som do chuveiro. Ela e a bolha de espuma que se esvaece no ar, como o desejo. Imóvel, parecia-lhe que o tempo respirava devagar, e desafinava as batidas do relógio. Ela era esse segundo que não se atreve a nascer. Observou um raio de luz se esvaindo na parede da cozinha. Olhou seu jeans zurrado, e pensou no vestido azul abandonado na cadeira do seu quarto, aquele que nunca chegou a estrear. A agua da torneira concluiu sua cantoria, com a batida seca duma porta de armário. Observou seus pés e os tênis que alguma vez já foram brancos. Amaldiçoou-se. Sentiu o perfume dele no ar. Cheirou sua própria pele, tateou o cabelo e mordeu os lábios. Pensou em fugir. Você esta linda, perdoe a demora, disse ele ainda na sombra. Não fala, cochichou ela cheia de vontade, enquanto lhe desabotoava um a um os botões da camisa. 

 | Yolanda Serrano Meana |

0 comentários: