DESCOMPASSO II

Hiperbreves
Mal amanhecia, abria os olhos e pulava da cama. Em silencio desatava o gorro de dormir, dava uma esticadinha com a mão na renda da camisola, espreguiçava-se na frente do espelho, caminhava lentamente até o balcão e ficava lá, o nariz grudado no vidro, o olhar fixo no horizonte esverdeado do parque. Ele surgia da bruma. Dessa neblina que nos últimos tempos se apoderara das paisagens, e de seu olhar. Protegida pelo acortinado observava os passos apressados desse jovem que não usava chapéu nem sobrecasaca, e admirava extasiada sua roupa simples e esquisita. Descarado, ele também a olhava. Parava na calçada para observa-la. Ela sentia-se feliz dentro daquele olhar atrevido, misterioso e sensual. Ela sonhava com aquele jovem estranho e perturbador. Ela o amava. Viu seu aceno ao atravessar a rua, e soube que ia busca-la. Esquecendo-se das normas, desceu os degraus de dois em dois e correu ao encontro. Do outro lado do portão, só a bruma e o vento.

I Yolanda Serrano Meana I


0 comentários: