DNA

Hiperbreves
Depois de dois anos frustrantes na tentativa do casal engravidar, ele foi ao médico. Os exames garantiram esterilidade congênita. Ele alegou que já tinha um filho: o silêncio que se instalou pela sala tinha um peso e uma dor que lhe dilaceravam o peito. Ainda assim, quis tirar a prova: o DNA exterminou de vez dúvidas e esperanças. Em casa, confrontou a mulher: ela chorou, negou - em vão. Enquanto fazia as malas, avisou que o menino ia saber que não era seu pai biológico - mas sempre seria seu pai. Num rompante, ela revelou o caso furtivo, rápido, sem importância, com seu irmão mais velho. O abismo que se abriu ao redor deles tinha nome, sobrenome, rosto e parentesco. Só não tinha fundo ou saída - nem volta.
| Débora Böttcher | 

0 comentários: