FERIDAS

Hiperbreves
Assim que tocou o papel, a ponta do lápis quebrou e uma linha, escura e grossa, cruzou a branca planície da folha. Sentiu uma pequenina lasca de madeira rasgar-lhe a pele e, junto com a dor, ela teve um pressentimento. Observou as gotas de sangue escarlate que gotejavam do dedo indicador, para cair estrepitosamente na brancura virginal do papel. Mas duvidou de si, porque ela não acreditava em pressentimentos ou adivinhações. A estagiaria saiu com o dedo na boca, à procura dum álcool qualquer para desinfetar a ferida. Não conseguiu voltar. O policial que bloqueava a entrada disse-lhe que era por seu próprio bem. Agarrada à porta, ainda em choque, viu como a tolerância atravessava apressadamente a rua, e fugia.


| Yolanda Serrano Meana |

0 comentários: